quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Manifesto do Parto Ativo

1-Todos os partos que acontecem com liberdade são acompanhados de uma importante movimentação da mulher: ela caminha, fica em pé, de cócoras, de joelhos, deitada, e se movimenta livremente para encontrar as posições mais apropriadas e confortáveis. Não existe a melhor posição para um parto natural quando a gestante segue seus próprios instintos, pois o parto sendo ativo implica uma sucessão de várias posições, e não um estado passivo de imobilidade como é habitual.
2-As estatísticas revelam que, nos dias de hoje, em todas as partes do mundo, a maioria das mulheres tem seus filhos em alguma posição vertical ou agachada, geralmente com outra pessoa segurando-a. Não importa a raça ou a tribo: africanas, americanas, asiáticas, e assim por diante, em todas predominam sempre as posições verticais. As mulheres primitivas são espontâneas e naturais. Historiadores confirmam totalmente a evidência dos etnologistas, que afirmam que as posições verticais sempre prevaleceram desde as mais remotas épocas.
3-A maioria das mulheres ocidentais é confinada em hospitais na posição recumbente. Essa prática é desnecessárias e ilógica. Em decorrência dessa venda nos olhos, o parto nos hospitais modernos se torna cada vez mais caro e complicado, transformando um processo totalmente natural em um ato médico, uma parturiente em uma paciente. Nenhuma outra espécie adota essa posição desvantajosa em um momento tão crucial.
4-Estudos revelam desvantagens no uso da posição recumbente no momento do parto:
- A única posição que determina a compressão dos grandes vasos abdominais contra a coluna vertical é o decúbito dorsal (de costas); a compressão da grande artéria do coração (aorta descendente) pode levar ao sofrimento fetal por impedir o sangue de chegar à placenta e ao útero. A compressão da grande veia que traz o sangue de volta ao coração (cava inferior) bloqueia o retorno venoso e contribui para a hipotensão e outros problemas circulatórios.
- A posição recumbente não tira nenhum proveito da mobilidade da musculatura pélvica. Ignora a vantagem da flexão dos joelhos e da articulação coxofemoral, ou seja, o ângulo agudo que se forma quando o joelho se aproxima da caixa toráxica (de cócoras) e que abre a pelve, sendo a posição onde os diâmetros da pelve alcançam sua abertura máxima. Na posição horizontal o peso do corpo repousando sobre o sacro acaba limitando-o ao máximo, perdendo aproximadamente 30% da mobilidade possível, comparando-se com a posição de cócoras.
- Ficar deitada de costas sem nenhuma flexão do tronco implica que a disposição do útero desafie a força da gravidade. É claramente mais fácil para qualquer objeto cair em direção à Terra do que deslizar em uma superfície paralela à mesma (Lei da Gravidade de Newton). É mais vantajoso fazer um bebê nascer descendo em direção à Terra do que empurrá-lo na linha horizontal, o que desperdiça energia e esforços, originando uma dor desnecessária e aumentando a duração do trabalho de parto.
- Na posição deitada, o parto acontece com uma distensão desigual do tecido perineal às custas da porção posterior, o que determina um aumento do risco de rotura perineal e de uma episiotomia, e certamente aumenta o sofrimento e a dor.
5-As mudanças de posição são mais importantes que ficar em uma única, considerada melhor, posição durante o trabalho de parto. Entretanto, a posição de cócoras é a que mais se aproxima das leis da natureza e é conhecida como a posição fisiológica. Uma posição de parto é fisiologicamente eficiente:
- quando não há compressão dos vasos abdominais;
- quando a pelve tem total possibilidade de movimento; e
- quando o corpo trabalha de acordo com a lei da gravidade.
A posição de cócoras sustentada é especialmente eficaz nos momentos finais do parto.
Essa posição determina:
- o aumento máximo da pressão intrapélvica;
- um mínimo esforço muscular;
- um relaxamento ótimo do períneo; e
- ótima oxigenação fetal.
Na posição de cócoras a entrada da cabeça do bebê, ou da parte que se apresenta, dentro da pelve materna é mais fácil, há uma facilitação da pressão que a cabeça exerce sobre o colo uterino e a descida dentro do canal pélvico é mais tranqüila devido ao estreito superior ter sua abertura direcionada para frente e o estreito inferior, para baixo.
6-Acreditamos, conforme sugestão de inúmeros estudos nos últimos 50 anos, que quando o parto é ativo temos as seguintes vantagens:
- não há quebra do ritmo natural e da continuidade do parto;
- as contrações uterinas são mais fortes, regulares e mais freqüentes;
- a dilatação, ou abertura, da cérvix (colo do útero) é mais fácil;
- é possível um relaxamento mais completo entre as contrações, pois a pressão intrauterina é significativamente mais elevada; e
- os períodos de dilatação e de expulsão são mais curtos.
Alguns estudos comparativos revelam ser 40% menor o tempo do grupo que permanecia na vertical:
- o conforto da mãe é maior, e a dor e o estresse são menores;
- portanto, a necessidade de analgesia é menor;
- melhores condições dos recém-nascidos; e
- as mulheres que dão à luz se sentem mais participantes no controle dos seus partos e com maior freqüência vivenciam o parto como uma experiência maravilhosa e gratificante.
7-Depois de um Parto Ativo a mãe sente que ela deu à luz em vez de sentir que o bebê foi extraído dela. Mãe e filho sentem-se totalmente participantes e ambos alertas, saudáveis e sem nenhum medicamento quando se encontram face a face. Isso inevitavelmente resulta em um ótimo estabelecimento da relação mãe – filho.
8-Assim como uma celebração familiar, o parto de uma criança é um acontecimento crucial e incerto, envolvendo um suspense quanto ao que vai acontecer. A capacidade de dar à luz e de quem faz o parto é valorizada em todas as sociedades. Acreditamos que no mundo moderno ocidental a habilidade de quem faz o parto por meio da tecnologia sobrepujou totalmente a habilidade de parir das mulheres, de modo que muitas mulheres perderam a “manha” de dar à luz.
O parto, na vida de qualquer mulher, é um acontecimento excepcional, como um “cabo de guerra”: de um lado, instinto; do outro, habilidade. Existe um jeito para fazer a maioria das coisas e o parto não é uma exceção. Acreditamos que esse equilíbrio entre habilidade e força deve ser recuperado, aumentando-se a habilidade e a força de quem dá à luz – a mãe.
9 – Baseando-se nos resultados das pesquisas, em diversos estudos atualizados e no instinto ancestral é possível prever que certas mudanças relacionadas ao trabalho de parto e às posições de parto são inevitáveis na condução do parto e na preparação das gestantes. A futura mamãe precisa não somente de conhecimento sobre gravidez e parto, sobre crescimento e desenvolvimento dos bebês, mas também de preparação física adequada. Precisa conhecer o que acontece com o corpo quando se explora as várias posições verticais e a se acostumar com a tranqüilidade e o conforto que elas proporcionam para ficar capaz de, ativa e eficientemente, ajudar-se quando for dar à luz o seu filho. Pode também tirar grande proveito do treinamento de aprender a aquietar a mente, a ir mais fundo no contato com seu eu interior e como potencial profundo instintivo de dar à luz.
10 – Finalmente, não há dúvidas, para todas as mulheres que tiveram um Parto Ativo ou para quem assistiu muitos partos ativos e passivos, de que o Parto Ativo é mais fácil, mais seguro e mais recompensador tanto para a mãe como para o bebê. O modo como uma criança vem ao mundo influencia sua vida e qualquer melhora na experiência do parto contribui para um mundo melhor. Geralmente entendemos um parto natural como aquele onde não se usa drogas ou medicamentos; assim sendo, um Parto Ativo, no sentido pleno do termo, é um verdadeiro parto natural.
retirado do Livro PARTO ATIVO, um guia prático para o parto natural
de Janet Balaskas

Páginas 302 a 305